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Acabou a ceia e,
antes de levantar a mesa e a toalha, o avô, o chefe da casa, pediu ao,
hóspede que desse graças a Deus, o que ele agradeceu, declinando essa
honra no ancião, que era o mais velho a por isso o mais respeitável. Assim
se fez e o bom velho principiou a pedir por todos os santos do seu
conhecimento, pelas pessoas falecidas da família a dos amigos, pelas almas
do Purgatório e ainda por aquelas que não têm na terra quem se lembre
delas; pelos que andavam nas águas do mar, que Nosso Senhor os trouxesse a
porto de salvamento e, por último, a "Nossa Senhora das Preces que era
nossa vizinha, que fosse nossa Madrinha perante seu amado Filho, quando
deste mundo partíssemos ".
Emfim, uma reza que durou uma hora bem puxada. Os novos já cabeceavam com
o sono. Benzeram-se a acabou tudo pelo peditório da bênção de mãos
estendidas. E o «Deus to faça um santo o reboou em cruz com a mão
estendida, dos velhos para os novos.
Principiou o serão: as mulheres fiavam grossas rocadas de estopa e linho,
fazendo rodopiar nos dedos o fuso de pau, os homens debulhavam as últimas
espigas de milho e o avô ensarilhava as maçarocas de fio que iam saindo
dos fusos.
O hóspede olhava com curiosidade para aquela vida simples a abençoava
aquele viver patriarcal. Depois do vendaval que o tinha martirizado, a
naquele conchego morno do lar, veio-lhe a lassidão do sono.
Um enxergão de estopa grossa, cheio de palha centeia, foi posto em cima de
uma arca, um lençol de linho, muito lavado, cobertores de lã cardada,
fiada a tecida em casa, e ficou pronta a cama para êle. Derãm-lhe as
boas-noites, desejando-lhe uma feliz, e o nosso caminheiro, depois das
rezas, estendeu-se ao longo da roupa e, pouco depois, dormia
profundamente. As canseiras, talvez da longa viagem e o aspérrimo tempo,
provocaram-lhe aquêle sono profundo.
Levantou-se ao
luzir do postigo. Pediu que o conduzissem à ermida a lhe dessem um
ajudante, pois is celebrar Missa.
Foi então que os serranos hospitaleiros souberam que albergaram em sua
casa um padre. Ora, este padre chamava-se, segundo êle disse, António
Simão Correia, ninguém sabendo de onde vinha nem quem era.
Avistou-se com o cura de Aldeia das Dez, com quem muito falou, dizendo
este lacónicamente aos seus paroquianos:
- Estimem-no que é um bom.
Ali principiou a exercer o seu ministério e a engrandecer o santuário com
obras de arte. A sua fama de santidade espalhou-se por longe a viam-se,
vir peregrinos de terras distantes, pedirem remédio para o corpo e para a
alma. Para o corpo, fazia-os ajoelhar ante a imagem da Virgem a ali
juntavam as preces, pedindo a saúde; para a alma, fazia-lhes exortações
aconselhadas pela sua fé. E foram tantos os pobrezinhos que levaram saúde
para Õ corpo a consolações para a alma, que difícil seria contá-los.
Ali vivia na casa ao lado da, igreja, no quarto que ainda hoje tem o seu
nome, o quarto do Simão, tendo ali as sua vigílias e desfiando as suas
penitências.
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