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O padre Simão,
quando isto leu, o seu primeiro ímpeto, foi armar-se e ir tirar aquela ave
implume, das garras dos abutres, mas depois acalmou-se, pensando nas
promessas que tinha feito junto ao altar, aos pés de um ministro de Deus.
Que Deus se amerceasse da pobrezinha e a êle lhe desse fé, para resistir
às tentações do Demónio. Foi para o seu convento, redobrando de piedade e
penitências para que Jesus se apiedasse da infeliz.
Principiou a ver-se rondar o convento um indivíduo de mau aspecto, sempre
de arma ao ombro. Era o « Facadas ».
-Se ao menos a minha morte lhe desse paz, eu de bom grado a daria, pensou.
Pouco depois o superior do convento chamou-o ao seu quarto e disse-lhe
-Frei Simão, tem que abandonar este convento porque se trama contra si
grosso pecado. Eu não lhe posso valer porque são poderosos maus. Vá. Que
Deus o guie e se um dia puder e sentir saudades do nosso conventinho,
venha compartilhar da nossa regra. A sua cela cá o fica esperando...
Abraçou-o comovido e meteu-lhe na manga do hábito um saquitel, com algumas
peças, de ouro. Nessa noite, à luz merencória da lua, tomou o bordão e a
sacola com o indispensável, e lá saiu pela portaria do convento. Ao chegar
a um serro, voltou o rosto para traz a contemplar pela ultima vez, Deus o
sabia, o seu conventinho, cuja sineta chamava extraordinariamente os
frades, a rezar pelo companheiro.
Mais ao longe estava o solar onde era martirizada a infeliz Branca.
Despediu-se acabrunhado de saudades e pesadelos de revoltas. E foi assim
que nós ó vimos aportar ao burgo, hoje Vale de Maceira, onde tantos
serviços materiais e morais prestou.
E só o quarto dá sinal do frei Simão !
Aquêle penitente que se lhe ajoelhou aos pés era o "Facadas ", que, cheio
de remorsos e ouvindo a fama do santo, vinha confessar-se e pedir perdão
dos seus grandes pecados. .
Contou mais: que a menina, como não quisesse casar com o primo, morreu
sequinha num quarto do palácio e que êle tinha sido o seu carcereiro.
Foi então que êle saiu do confessionário, indo pedir à Virgem bonança e,
por noite velha, partiu para o seu conventinho que lhe acenava com a paz
que outrora lhe tinha dado.
Nunca mais houve notícia de frei Simão, aquêle misterioso personagem que o
ameno vale teve por hóspede, largos anos. A sepultura na sacristia e o
quarto ainda hoje lembram as lágrimas a os soluços do infeliz.
Quantos êle ali daria e quantas lágrimas ali verteria? Eu, que sei a
história do quarto e da sepultura, é que nunca ali vou que não pense
naquele destino e pregunte à Virgem o fim daquele infeliz sonhador. Os
romeiros que ali passarem lembrem-se, lembrem-se do benemérito do
Santuário, que êle desejou aformosear e tanta alma chamou para aquela
linda capela. Uma saudade, pois, por frei Simão !
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